domingo, 19 de junho de 2011

Uma imagem no espelho.

É noitinha e Pi está penteando seus cabelos molhados em frente ao espelho. Ela havia saído do banho há pouco. "O Fulano me disse hoje na escola: 'Você é feia, muito feia. Já se olhou no espelho? Aposto que não, porque ele deve quebrar toda vez que você faz isso.' Mas eu nem ligo! Ele que é feio!".

Não sei que cara tem o Fulano. Mas achei engraçado a Pi me contar isto diante do espelho e ele estar mesmo inteiro, inteirinho da Silva. É, pensei com meus botões, acho que o Fulaninho está com um sério problema de perspectiva... Para mim, ela é simplesmente linda.

E me lembrei então de tantos "elogios" parecidos que recebi ao longo da minha vida e do tanto que a minha imagem perante o mundo já me incomodou [e ainda me incomoda, por sorte que hoje de forma bem mais esporádica].

Na verdade, creio que nem eu nem o Fulano estamos errados a respeito do que vemos na Pi. A imagem das coisas e principalmente das pessoas depende muito do ângulo que resolvemos olhar para elas.

No meu quarto, tenho dois espelhos. Hoje, estava distraída e acabei me olhando nos dois. Em um, estou mais gordinha, no outro, acho que estou bem. Qual deles está certo? Não sei. Talvez nenhum. Na verdade, pouco importa... Só tenho certeza que a imagem que vejo neles tem um pouco de mim e um pouco deles também.

E será que não é assim que é a nossa imagem por aí? Um pouco do que realmente somos, um pouco do que é quem nos vê?


segunda-feira, 13 de junho de 2011

Querido Santo Antônio,



Ouvi dizer que hoje é seu dia.

Ok, confesso! É mentira, eu sei disso desde menininha... Há tempos que, nesta data, rezo pro senhor. Acontece que já deves ter notado que meus pedidos sempre foram muito confusos... E hoje, não será nada diferente.

O que acontece, Santinho [posso tomar essa intimidade?] é que ainda não resolvi o que quero da minha vida. Eu sei, eu sei, estou ficando velha... Já devia estar em idade de rezar pro senhor me desencalhar logo, senão fico pra titia.

Mas é que tenho medo, santinho, de pedir que o senhor me arrume um marido... E que eu fique presa em uma vida sem graça, sem emoção, sem sonhos e por vezes sem amor, como vejo na maior parte dos casamentos por aí.

Tenho medo de perder um universo de possibilidades, que é o que tenho hoje... Não é que posso reclamar da minha vida, sabe? Eu ando me sentindo tão bem...

Logo, hoje rezo pro senhor de uma forma que considero melhor para nós 2. Te rogo, Santinho, pra que se o senhor achar mesmo que eu preciso casar, saiba que fará a toda a minha família e amigos muito gosto. Peço apenas que me arrume um bom moço, que só tenha um pé no chão e que compartilhe comigo o desejo único e simples de ser incrivelmente feliz.

Amém.

sábado, 11 de junho de 2011

E há como passar por esta vida sem amar alguém? É a pergunta que ando me fazendo...

E vejo que, por mais que tentemos, esta é uma tarefa praticamente impossível. É preciso muito sangue frio e muita força de vontade pra escapar de se encantar quando um certo alguém aparece. Sangue frio para escapar de flutuar, de se perder...


Quando se vê, o auto-controle já era. Tudo que era brega e por vezes abominável nos casais alheios passa a ser indescritivelmente gostoso. Você o chama de nomes no diminutivo, você o pega falando você como bebê. E o pior: ainda acha lindo. É, é nesta hora que você vê que está tudo perdido.



Está decretado que o amor, aquele mesmo amor que você considerava indigesto quando visto na mesa do lado, que você nunca achou que ia acontecer com você, bateu na sua porta para te fazer pagar a língua.

E por onde passo, noto os vestígios de uma Primavera qualquer que já passou, colocando um sorriso no rosto de crianças, mocinhos e idosos, dando-lhes um carinho no centro do peito.

É... Pelo que vejo, não sou a única no mundo que se rendeu.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Um dia de trânsito e chuva...

Quantos versos
Quantas prosas
Perdidos
Com o verde dos faróis



E esta mania
De sempre ver o caminho de ida
Nunca o de volta
Será isto segurança
De sempre encontrar
O caminho de casa?

quarta-feira, 8 de junho de 2011

E vamos aproveitar

Que os sentimentos são imateriais
E parar com a mania de medi-los.


Pra que colocar fronteiras no infinito?

domingo, 5 de junho de 2011

A infância? A adoro. Sempre penso em como tenho saudades de muitas coisas dessa época da minha vida. Sinto falta da inocência, das brincadeiras, do ócio autorizado, da escola, de todos os meus sapatos terem cheiro de tutti-frutti, meus cadernos terem capa de bichinho [e o melhor, ninguém me encher o saco por isso].

Ultimamente, em uma de minhas reflexões sobre este assunto, notei algo engraçado. Uma das coisas que eu mais detestava quando era criança era a falta de autonomia sobre a minha vida. Vivia profetizando aos meus amiguinhos que, quando fosse adulta, comeria quantos chocolates quisesse, dormiria e acordaria a hora que quisesse, ia sair no frio sem casaquinho, ia anarquizar todas essas regras bestas que pai/mãe adoram inventar.

Hoje, como adulta, realmente como quantos chocolates quero... E depois, brigo com a balança, tenho dor de barriga, passo mal. Entendo muito bem que estas consequências tem a ver com minha "anarquia"... E normalmente me arrependo de ter sido uma má garota.

Descobri que quem escolhe a hora que eu acordo é meu chefe e o trânsito da minha cidade, não eu. E as consequências de ir contra esta regra me doem tanto no bolso, que não costumo quebrá-la nem pelos famosos 5 minutinhos. Se durmo tarde, meu desempenho no trabalho cai, e isto me irrita... Logo, no fim das contas, não vale tanto a pena quanto achei que valeria.

A verdade é que hoje, como sou eu quem arca com as consequências das minhas escolhas, vejo como quebrá-las perdeu o seu alto valor... [o que não me impede de fazer isto de vem em quando, claro... A criança dentro de mim diminui, mas não morreu.]

Mas o mais interessante de estar do outro lado da moeda, é quando eu estou em posição de autoridade com quem hoje é criança. É inacreditável... Mas a minha cartilha de regras ganhou uma sessão de anexos e itens extras. Descobri que sou uma chata! E que, legal mesmo, era a minha mãe, que me deixava andar descalça em casa e, às vezes, deixava eu comer danoninho com o dedo... Um dia, quando eu crescer, quero é aprender a ser como ela.