- Um pão de queijo e um descafeinado, amor?
- Sim, querido. Você me conhece tão bem que me assusta.
Sua fala acompanhava um sorriso amarelo e uma pontada na boca do estômago. A mentira era tão pontuda que era dolorido.
Como se supera um grande amor? Ela queria desesperadamente a resposta. Perguntou aos amigos. Viaje, disseram eles, e ela atravessou o mundo. Por mais que tentasse jogá-lo na lixeira, ele estava irremediavelmente na mala. Participava de cada foto, opinando nos ponto turísticos e itinerários.
Arrume um hobby, disseram outros. E ela fez aula de fotografia, comprou uma câmera profissional, gastou dinheiro que já não tinha. Ele tornou a aparecer, no fundo de cada clique, acompanhando pássaros, sentado debaixo dos flamboyants.
Encontre um novo amor, disseram todos em uníssono, quando nada mais parecia funcionar. Disposta que estava, sorriu de volta pro moço bonito que sempre encontrava na cafeteria. O tempo passou e as coisas andavam como teria de ser. Ao menos era o que parecia... Ele ainda estava lá. Ela não se permitiria ser realmente conhecida por esse novo homem e sabia disso. Apesar do nome ser o mesmo - ironias do destino...- nada que fizesse adiantaria. Ok, o moço era bacana, bonito, usava um perfume gostoso. Conhecia bem sua superfície, aquilo que ela deixava aparecer. Mas essa história tinha um grave defeito que não teria como ser superado. Ele estava sendo tragado pela forte ressaca de um grande amor.
Ela percebeu que por mais que buscasse do lado de fora, sua jornada era interna. Não adiantava perguntar a ninguém. Não adiantava tentar colocar outras coisas e pessoas neste buraco impreenchível, isso só aumentaria a dor. É preciso tempo para a cura. É preciso carregar certas bagagens por um tempo.
- Aqui, seu café. Trouxe requeijão pro seu pão de queijo, sei que você gosta.
- Obrigada, lindo. Vamos ao cinema hoje à noite?
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